O Pecado de Hadewijch

Hadewijch foi um grande poeta. E em suas (várias) composições, cantou seu amor por Deus, em antigos manuscritos, tristes líricas místicas e longas visões teológicas. Hadewijch é também Céline. A jovem perdida na floresta, louca de amor, louca por Cristo. E num curioso triangulo amoroso – Entre Ela, Cristo e esse tal Amor -, Bruno Dumont nos conta uma historia de penitencia, filmado em silencio e meditação. Uma narrativa de benção e maldição, de velho e novo, de antigo e moderno. Tudo confundido pelo céu e pelo inferno e – logico – os dilemas dessa jovem.

E assim, Céline vive dias de Hadewijch. E assim, a jovem garçonete de Lille, a novata Julie Sokolowski, vive a Céline de Dumont. Um personagem que jamais interpretou, jamais sonhou, mas nas mãos metódicas do diretor, se veste de azul, de melancolia, de tristeza. Afinal, a fantasia dessa jovem que se afasta do mundo e da realidade para se aproximar do Paraíso.

E ao seu redor, a câmera estática do diretor observa o cotidiano dessa vocação, desse desejo. A vida real se impregna de azul: Nos cenários, nos figurinos, no frio. E no monástico azul, nos confins do mundo, vivemos uma caricatura de religiosidade de uma jovem apaixonada, que pouco a pouco se reveste de vermelho, ainda que timidamente, um mero detalhe dessa paixão: Os símbolos cristãos, os crucifixos, a família, o jovem Yassin… Mas é pouco. Uma vaga lembrança do mundo real, cuja música surge como ato de comunhão.

E através de Yassin se chega à Nassir para (outro) encontro de graça e loucura. Outra via crucis pelos caminhos da fé, outrora pelo Cristianismo, agora pelo Islamismo. Afinal pelo branco. Pela revelação. Nessa hora, a tela se ilumina. A tela explode. Céline implode. E é esse Amor que Hadewijch tanto cantou e que Dumont, com técnica, serenidade e equilíbrio filma tão bem.

Spoiler Rating: 71